Mania de querer

Nesse tempo de tantos desvarios quero poder semear tuas lembranças mais belas. Não há horas para serem contadas, esperadas,

perdidas

ou

esgotadas.

Quero catar conchas lá nas nuvens. Beijar a menina dos teus olhos. Sugar o sal dos lábios nus. Roubar as flores do teu corpo. Degustar do teu fel. Te oferecer do meu mel.

Vou retocar os teus sonhos com azul. Cortar todos os laços. Amarrar nossos abraços. Guardar tuas tristezas. Enganar tuas promessas. Seduzir os teus fantasmas. Contar todos os teus passos. Mostrar-te o mapa dos meus desejos. Falar de amor na sua orelha.

Quero sentir o vento que não sopra, a água doce da tua carne, a reação ao teu veneno, quero aquilo que for de menos. Quero rasgar o meu peito e amar do teu jeito com todo esse ardor.

Eu vou sair do meu limite só pra te consolar. Quero arrancar a tua dor. Orientar os teus anseios. Te perder e me encontrar. Não quero ter poder, quero apenas te entender e te dar meu bem-querer.

Não existem desencontros, nessa trilha indefinida, nesse amor surreal, nessa noite desleal. São apenas palavras perdidas num mar onde a brisa acaricia a pele, nos enche de pecado, aquele insofismável, sublime, transmutado num beijo imaculado, sagrado, gelado, cobiçado.

A sorte brinda a vida no chão de um mundo imaginário. Caleidoscópio que se confunde em nós dois. Espelho embaçado. Céu entrecortado de ecos. De cores. De dores. De contentamentos. De tormentos turbulentos.

Como uma estátua nua mantenho-me inerte aos teus carinhos. Só vejo uma luz sangrenta, que afugenta, que vela nossos corpos celestiais, ao som da música que me penetra, me compensa, me povoa, tira-me a crença.

Em meu rosto, só o cheiro de uma rosa pálida. Apenas reles lembranças. Lembranças de um tempo que era só teu. Não há horas para serem contadas, esperadas,

perdidas

ou

esgotadas.