Nudez da Alma
Já dizia o saudoso Nelson Rodrigues de que ‘toda nudez será castigada’ e a propósito, a palavra ‘nua’ desperta logo os mais variados instintos, dos poéticos, aos proféticos e àqueles não tão santos.
Num artigo de Martha Medeiros ‘Outro tipo de mulher nua’ ela fez uma análise perfeita sobre essa dualidade e tento aqui refletir com você, sobre esse outro tipo de nudez que encanta e me faz escrever, não as do photoshop, onde todas viram deusas a um simples arranjo de maquiagem virtual, mas a nudez da alma e da sensibilidade, onde a pureza se manifesta em seus mais variados tons e cores.
Quando uma mulher se despe emocionalmente, escrevendo um poema, ou uma prosa poética, não posso negar alterações nos volumes do meu corpo e do meu espírito, que se assanham todos rumo à mensagem que dali se desprende, no frescor de hortelã do hálito de palavras tão doces e envolventes.
Esse festival de botões que se soltam no ar, meio selvagem ou delicadamente, me fascinam e me impulsionam a criar algo logo atrás, como circunflexão diante do altar dos versos brotados, ou melhor, desabotoados pela ninfa soberana dos meus sonhos de poeta.
Para mim o erotismo ganha contornos sensuais num sorriso, num olhar luminoso que me despe inteiro as fantasias e me faz acreditar na utopia do verdadeiro amor ainda acontecer em minha vida, apesar dos desapontamentos, tristezas e cansaços, nessa sofrida procura por ele.
E com a sabedoria aguçada em loucura disfarçada, essa poetisa sabe do seu poder sobre mim e o usa com uma maestria exemplar. Eu perfilo diante de seus astutos olhos, todos os meus defeitos e carências, minhas falhas e meus pecados de confesso e devotado admirador que não se cansa de declamar o seu encanto.
Não sou homem de ficar escolhendo palavras para descrever meus sentimentos arrebatadores, da minha calma e das pulsações. Sou humano! Factível do falível! Apaixonado pelo deslumbre da poesia e das suas penetrações no meu humor diário. Não coloco por debaixo do tapete a poeira dos meus erros. Deixo-as ao vento...
Reluto para vencer ‘o modus vivendi operanti’ da coisificação, neste mundo globalizado e consumista, que beira a decadência do ser humano, nessa sua essência que é divina e transcendente.
E percebo que são muito poucas as mulheres e homens que ainda vivem com essa mesma força, essa nudez apaixonante, que sinto brotar no coração e que me mantém vivo na esperança de que possamos contaminar um maior número de pessoas para fazer desse mundo cruel, um lugar melhor para viver e desfrutar.
Nesse ritmo meio insano vou tirando as peças, as armaduras, as máscaras que me impedem e aprisionam meu verdadeiro eu, rumo ao esplendor das descobertas mágicas das palavras que me despem por inteiro e me fazem renascer a cada instante. Não temo o castigo porque estou no abrigo doutros poetas amigos que pensam parecidos comigo.
Hildebrando Menezes
Nota: Inspirado em “Outro tipo de mulher nua” – de Martha Medeiros.
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