A DÚVIDA DA TRAIÇÃO
Esquiva-se as minhas carícias
e em insana e imprevisível demonstração,
o semblante carregado me adverte:
que já não consegue disfarçar a irritação!...
Aquela voz secreta vem-me alertar
e eu fico a lhe observar, tal como um simplório!
Fingindo despreocupação,fico de longe,
sem trair-me, evitando seu olhar.
Alarma-me sobremaneira os últimos dias
de nossa intimidade e a queda vertiginosa
dos carinhos conjugais.
Acho me ferido em meus direitos de posse, E nem de leve passou-me pela mente
a idéia da contagem de dias e noites,
durante os quais na alcova vazia
não tive a sua presença
Apenas um corpo rígido e frio!...
Agora me assombra a dúvida da traição,
sentindo existir um possível rival
E com os olhos úmidos pressinto a separação
que me será imposta pela sua desenfreada
busca de luxo e conforto,
premiando a sua ambição.
Sinto a insistência da broca do ciúme
abrindo no peito, as cavernas,
onde sempre moram os estopins das tragédias!...
Desisto de pronunciar alguma palavra
ou dirigir-lhe um lamento sequer,
pois sei que amanhã, no abandono,
já não serás a minha mulher.
O cérebro castigado em choque iminente,
na espera das horas passarem,
no coração a certeza por demais cruel,
que não haverá mais esperança
e que por mais que faça,
há tempos tomastes a sua decisão.
Amanhã serás em minha vida mais uma saudade,
que guardarei trancafiada, no velho baú,
onde já existem milhares de esvaídos sonhos,
onde mais uma vez em suas bordas debruçado
as perdas de minha vida lastimarei,
relembrando de um tempo que foi feliz,
mas que já ficou no passado,
e por ele novamente chorarei.