UMA VOZ AO LONGE

Deitei...

E ao deitar me apaguei,

No meu cansar viajei,

Construindo castelo no ar,

Comecei...

Atada com canga,

Nem vestida e nem de tanga.

Vindo ao longe parecia santa,

Jogada ás costas, uma velha manta.

Cobria-lhe a fertilidade,

Avançava pedindo clamor,

Nós pés muitas bolhas,

Envoltas de ramos e folhas.

Em cada passo uma dança

Voz tímida, como pássaro que não canta,

Bem próxima, indaguei: Que sente?

De onde vêm? Toda imprudente,

Ferida e coberta de íngua,

Entende o que te digo?

Falamos a mesma língua?

Espere um pouco,

Próximo a mim se sente,

Acomoda, não resmunguem entre os dentes,

Deixa cair a canga,

Agora sim, vejo que és gente,

Que lindo sorriso...

Empresto-lhe o pente,

Arrume seus cabelos negros,

Agora sim, sorria novamente, tente,

Estava atada...

Pelo meu passado fui julgada,

Condenada...

Mais te juro, sou inocente,

Venho de longe...

Habíto uma terra do contrário,

Só prova a inocência

Quem possui numerário.

Não fale mais nada,

Creio em ti,

Não te encontro maldade,

Consultei minha varinha de condão,

Embora eu não seja fada,

Preciso transformar seu coração.

Veja esse pedaço de chão,

Nossos frutos ajuda a plantar,

Se tiveres disposta,

Da minha vida parte tomar,

Venha, necessito te cuidar,

E nossos sonhos vão se somar.

Vou lhe vestir o corpo,

O que passou é passado,

Tirarei dessa arapuca baderna,

Esta será nossa moradia,

Não é bastante moderna,

Está até hoje a espera de alguém,

Para junto refazer enamorada etrena.

Fui interrompido,

Pelo estrondo da natureza,

Você chegou, que beleza,

Desculpa-me por ter dormido,

Se soubesses o que sonhei...

Quer se casar comigo?