"Homem com asas - Para Thiago/Bentinho"

Guarnecido de asas, voa o homem rumo ao seu desconhecido. Alcança a coragem ainda que em metáfora, explora irremediavelmente os mistérios que em todo momento lhe impulsiona. Ignora as correntezas ventosas, desvia-se dos turbilhões de dúvidas que pairam juntamente consigo, naquela maravilhada viagem.

O olhar Dela se faz destino, mesmo que seja pelas suas vísceras, ela o detém. Não lhe afetou o coração, mas sim o corpo; não age feito Apolo, enraíza Dionísio, incorpora-o com seus suores e orgias. É o desfrute que emana das entranhas daquela fêmea o faz “homem com asas”, sem juízo, despudorado das virtudes e dos desígnios que guardados estão em seu coração.

Duas são suas Américas, uma periférica, que surge quando o instinto de macho enfurecido ressoa. A outra, América comedida, é a segurança, é o seu eloqüente patriotismo. Da primeira, fogo e lava; a segunda: manso degredo.

Não há distinção, exceto pelo peso: uma mora em seus mistérios, a outra em sua razão. Daquela, embriaga-se do seu ópio, servido pelos lábios do pecado, desta recompõe-se sóbrio, sereno; anjo sem asas,

Da musa impassível, nua e desprezada têm-se sua incontida loucura, da Senhora do seu Destino a mais branda lucidez. Dois são os pólos que o movem: eu, vestida de seus desejos pérfidos, a outra é a calma, o descanso do gozo concedido pelas minhas fruições.

Mais uma noite culpo-me pelo suor dissipado, pelo afeto sentido, pelo beijo dado, pelas mãos pousadas em meus seios. Mais uma noite, adormeço, sem que seu corpo acometa-me, sem que seus lábios me calem, sem que tua voz, me acorde.

E de mais a mais, assim me faço amante: de seus sonhos mais incontidos, de suas inspirações comedidas, e de todos os gemidos por ti oferecidos.

Desfrute e paz, distância e inconstância, são meros visitantes deste amado coração mundano.