MARAVILHA ARTÍSTICA
Quando se é artista o coração e a alma se fazem presentes, de forma marcante, nos mais modestos trabalhos. A verdadeira arte não comporta sofismas, nem traições aos próprios sentimentos artísticos.
Satisfação plena de seu mundo interior, de seu “ego” deve ser a meta do verdadeiro artista.
Artista sem egoísmo, sem o desejo ardente de satisfazer a si mesmo, à sua sensibilidade emotiva, aos seus anseios, não é artista, não vive nem sente sua própria arte.
Arte sem egoísmo, visando apenas as platéias, a exploração do sentimentalismo alheio, a fama e a fortuna, não é arte, mas, comércio baixo e vil, hipocrisia, dessecação personalística, prostituição sentimental.
Por isso, admiro o verdadeiro artista. Admiro você, modesto pintor bauruense, autor de um quadro maravilhoso que tenho em minha sala, modestamente inspirado em um motivo deveras comum: um rio calmo e sinuoso, descendo, mansamente, da fímbria da colina para adentrar a mata verde e sombria...À sua margem esquerda, um rancho de sapé...
Não se vê o sol... A hora é crepuscular... Aquela hora dúbia em que não se sabe se é o dia que nasce ou a tarde que morre...Há uns raios de sol batendo na colina e refletindo no lençol verde das águas, onde se projetam as sombras das árvores...
Não se esqueceu o artista da vegetação própria dos rios: capins, aguapés, etc.; tampouco do tronco seco e esgalhado de velha e gigantesca árvore, onde, à tarde, vem pousar irrequietos tucanos e, às vezes, algum gavião voraz, procurando localizar a presa.
O rancho é típico, vendo-se em derredor a si, algumas árvores...
É de se ver a maravilha policrômica do quadro, a harmonia dos traços, dando ao todo a magnífica impressão da realidade bela e empolgante!
Nele se sente a alma do verdadeiro artista, criando e vivendo sua arte!...
Artista amigo, no rio que você magistralmente pintou, imagino um barco a deslizar tranqüilo, levando em seu bojo minh’alma sonhadora!
Sei que você sentiu e viveu sua arte, mas, se esqueceu deste detalhe importante, que uma alma cabocla como a minha jamais esqueceria: não há caboclo que viva à beira de um rio sem sua canoa, seu bote...
Todavia, é um detalhe, apenas, que em nada desmerece o seu trabalho, a sua arte, pois, aquele que tem alma para sentir a beleza de seu quadro, construirá, certamente, como eu, seu barco imaginário e nele singrará as águas tranqüilas daquele rio maravilhoso!...
Outubro de 1956
Quando se é artista o coração e a alma se fazem presentes, de forma marcante, nos mais modestos trabalhos. A verdadeira arte não comporta sofismas, nem traições aos próprios sentimentos artísticos.
Satisfação plena de seu mundo interior, de seu “ego” deve ser a meta do verdadeiro artista.
Artista sem egoísmo, sem o desejo ardente de satisfazer a si mesmo, à sua sensibilidade emotiva, aos seus anseios, não é artista, não vive nem sente sua própria arte.
Arte sem egoísmo, visando apenas as platéias, a exploração do sentimentalismo alheio, a fama e a fortuna, não é arte, mas, comércio baixo e vil, hipocrisia, dessecação personalística, prostituição sentimental.
Por isso, admiro o verdadeiro artista. Admiro você, modesto pintor bauruense, autor de um quadro maravilhoso que tenho em minha sala, modestamente inspirado em um motivo deveras comum: um rio calmo e sinuoso, descendo, mansamente, da fímbria da colina para adentrar a mata verde e sombria...À sua margem esquerda, um rancho de sapé...
Não se vê o sol... A hora é crepuscular... Aquela hora dúbia em que não se sabe se é o dia que nasce ou a tarde que morre...Há uns raios de sol batendo na colina e refletindo no lençol verde das águas, onde se projetam as sombras das árvores...
Não se esqueceu o artista da vegetação própria dos rios: capins, aguapés, etc.; tampouco do tronco seco e esgalhado de velha e gigantesca árvore, onde, à tarde, vem pousar irrequietos tucanos e, às vezes, algum gavião voraz, procurando localizar a presa.
O rancho é típico, vendo-se em derredor a si, algumas árvores...
É de se ver a maravilha policrômica do quadro, a harmonia dos traços, dando ao todo a magnífica impressão da realidade bela e empolgante!
Nele se sente a alma do verdadeiro artista, criando e vivendo sua arte!...
Artista amigo, no rio que você magistralmente pintou, imagino um barco a deslizar tranqüilo, levando em seu bojo minh’alma sonhadora!
Sei que você sentiu e viveu sua arte, mas, se esqueceu deste detalhe importante, que uma alma cabocla como a minha jamais esqueceria: não há caboclo que viva à beira de um rio sem sua canoa, seu bote...
Todavia, é um detalhe, apenas, que em nada desmerece o seu trabalho, a sua arte, pois, aquele que tem alma para sentir a beleza de seu quadro, construirá, certamente, como eu, seu barco imaginário e nele singrará as águas tranqüilas daquele rio maravilhoso!...
Outubro de 1956