CONVERSA DE SANGUE
Houve um tempo em que meu ombro era amigo e te servia de abrigo.
Houve época em que trocavas comigo tuas angústias sem fim.
Meus ouvidos eram abertos pra ti e meu coração te entendia também!
Tua voz era constante pra mim e não havia em meu peito maior amor por ninguém!
Mas a distância nos afastou devagar e aquele tempo acabou.
Os teus problemas ficaram grandes demais para entenderes os meus.
Os meus também foram crescendo no tempo e a harmonia findou...
Não conseguimos manter a nossa amizade no meio da tempestade!
Não foi possível chorar no teu ombro o meu castigo de Deus!
Ignoraste o momento difícil, cobraste posturas e me abandonaste!
Não foste capaz de compreender as perdas que tive nem de avaliar direito meu grande sofrer... Não quisestes atentar para minha saúde comprometida, nem para minha ilusão totalmente perdida!
Perdeste teu tempo julgando atitudes e me condenando. Teu ego cresceu e achaste que podias me exigir, pois minha necessidade tudo ia perdoar e aceitar.
Depois te pusestes a agir como se fosses a vítima do destino e eu aquela que devia satisfações a ti pelos meus desatinos...
Mesmo assim tentei me aproximar de ti. Estive em tua casa para compartilhar um momento importante da tua vida e tu me recebeste friamente, sem um abraço, sem um aconchego... Trataste a todos melhor que a mim e fizeste questão de fazeres assim! Não houve do sangue um laço que te roubasse um beijo ou me ofertasse um chamego...
A minha dor por ali me faltares foi imensa e me surpreendeu! Parti decidida a entender que tudo que fizesse seria pouco ou nada diante do que aconteceu!
O peso de tantas derrotas, de tanta luta solitária para não sucumbir somou-se à tua indiferença e não pude controlar tamanha carga emocional, decepcionando alguém a quem muito estimo.
Ninguém entendeu e a culpa vesti, somando outra perda às que assumi!
E assim, afastaste de mim até os teus próximos. Falaste de mim a eles segundo a tua visão e destilaste assim toda tua antiga frustração pela minha chegada em tua vida, ocupando o espaço que era só teu e que eu te roubara na infância sem escolha.
Aos poucos tudo entre nós ruiu, quebrou se partiu...
Fui aprendendo a viver sem ti, encolhida em minha “bolha”, a cada porta que tu batias na minha face, e foram muitas, só eu sei...
Mas o tempo é implacável e nunca descansa. Ele me deu forças e me trouxe ajuda de outras andanças... Eu sobrevivi às minhas tormentas e me fortaleci por enfrentá-las sozinha. Tu certamente também tiveste de continuar a carregar teus problemas sem mais poder dividi-los comigo e isso deve ter te feito refletir de alguma maneira.
Consegui perdoar tuas atitudes e não mais lembrar que me fizeste falta. Curei-me das minhas fragilidades físicas e trabalhei duro para minha alegria trazer de volta.
Um mediador comum opinou certeiro! Sua visão de vanguarda teve como suporte a posição de terceiro...
Recomeçar é coisa difícil, mas não impossível!
Quando se quer há sempre uma chance de se redimir ou mesmo tentar, ao compreender que ambas erramos e nos sufocamos em tempos diversos de angústia ou de dor que um dia passamos.
Que tal escutar, o ouvido apurar e só ver sentido, nos laços de sangue que um dia escolhemos pra vir trabalhar o orgulho encardido?
Será que a vida não vai te ensinar a lição verdadeira, de amar como a ti o mais próximo irmão desta mesma maneira?
Sem acusações, orgulho ou disputa pela razão, quem sabe um resgate daquilo que foi virá colorir a vida da gente, se tão de repente ela passa e afasta pra longe de nós a mágoa tão vã e no coração só possa ficar, de novo brotar, o amor de irmã?