CIRCUNSTACIAL

O horizonte que te doei

brilha em minha retina lunática

O dia hoje está embriagado

pelas possibilidades de teu Baco na madrugada

Eu sinto um rito

Uma passagem

Um templo que se abriu

Estilhaços de ecos flutuantes

em frases contratadas pelas salivas dos sátiros

Pressinto que a nau é tocada pela líquida estadia do mar

Os ouvidos roucos se aproximam

dos cantos loucos das sereias

Os corpos se lançam em naufrágios

arquitetados pela vastidão noctâmbula

Vago dentro de mim

Subterrânea reação que me protege

do poder das letras mortas

Das fagulhas acesas em vaga-lumes

que dançam dentro do peito

Percorro o entreato da memória manchada

E derrubo as porcelanas dos tabus e dos mitos

A mutilação é visível no invisível dos fatos

Sou eu mesma que desmancho a cabeleira

E alinhavo os sonhos nos broquéis de meu casulo

Iva Tai

Iva Tai
Enviado por Iva Tai em 19/12/2008
Reeditado em 20/12/2008
Código do texto: T1343811
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