Agonia
E quando a gente busca um olhar, um sorriso, um gesto ainda que impreciso em algum lugar esquecido dentro desse infinito que percorre todo o corpo, faz a curva na ponta dos dedos, sobe e desce as ladeiras dos joelhos, pula... saltita no peito, quase se atira pela retina, nada e se afoga na saliva e escorrega pela garganta caindo no abismo do esôfago... ufa! haja fôlego prá tanta estripulia causada pela agonia de encontrar algum pedaço, ainda que estilhaço de uma poesia que um dia se perdeu... ou, quem sabe, foi levada pelo brilho dos olhos teus... e que, agora, percorre teu corpo, na minha mesma agonia procurando uma saída prá chegar até meu corpo e desaguar todo esse anseio em renascer num verso teu... quero uma poesia prá te dar de presente, que fale da gente, das nossas mãos dadas nos caminhos de pedra, num fim de semana nublado, na tarde quente embaçando nosso passado... te quero ao meu lado, com o sorriso debochado, me olhando de lado, provocando esse meu lado menina, que eu sei te alucina, e me deixa sem rima quando fala de graça que não sou parâmetro prá nada... e eu fico sem graça e concordo contigo... não sou mesmo, quando caminho a esmo por essas ruelas que desenham teu mapa e encontro teu facho nessa luz de lanterna que aponta uma esquina onde a minha retina vê uma placa que diz contramão... acordo então... procuro a inspiração na chama do isqueiro... amasso um verso no teu cinzeiro... e largo esse vício de te ter por inteiro.