Espaço

Vê daqui o limiar de uma imagem, é a entrada para o espaço – a lenta fixação da luz no horizonte, sempre aqui estivemos reunindo a nossa sombra. Ou estaremos deitados numa clareira do corpo: frente aos lábios, o brilho demorado sobre o cristal dos olhos,

pelo átrio das palavras debitaremos os sentidos, a procura de um significado único e possível, o que a voz não diz na tarde íntima de uma confissão solene. Reservo outras árvores e mesmo a relva para um dia solar – dedilhar os degraus da pele e

no piso último da casa o som dos passos do mar. Uma ideia ou um argumento ou as premissas sem conclusão, breve metáfora no romance das sílabas: o encontro, o encontro das veias e a espera da existência, um diálogo gravado nos vidros do destino,

o que fazemos para gravar o destino – subimos ao sonho pelas bermas do real.

Ouço, podia ouvir o vento no pulso, aqui desliza o sangue sob os anfiteatros do ar, quando as estradas devolvem as estrelas ao céu dos lagos – ou seja,

da janela a planície dissolvida do mundo neste espaço,

sempre aqui estivemos em redor da nossa sombra.