RECORDAÇÕES DA INFÂNCIA...
Minha mãe, professora primária
Cuidava de crianças o dia inteiro
Gurizada marota, ranheta,
Segundo minha velha...
Eu também menino seguia
Ela... Mais mãe dos outros,
Mãe de muitos! Menos minha...
Ao final do dia, cansada,
Liquefeita...
Eu, pois sim, entendia!
Só havia ela para sustentar-me
Tanta labuta, tanta luta
Era dever colaborar!
Dela então, pouco pedia...
Um pai, sim, houvera
Caíra do céu, qual maçã, pêra
Não de árvore, mas avião
Lógico, pois, que morrera...
Tinha uma irmã,
Antes de mim nascida
Essa era um mistério!
De mim tão perto,
Mas tão fora de meu mundo...
Só a reconhecia por seu chinelo!
Mas era bem feliz assim
Vida igual a de muitos guris...
Impressão de que tudo tinha,
E muita, muita alegria!
Por fim, tinha um cachorro cinza
Enorme, peludo, puro azougue!
Aproveitava a menor brecha
E, rapidinho, as ruas ganhava
Balançando aquele rabo ávido
Por aventuras de matilha
Ah! Pois havia a empregada
A dentuça Landinha!
Mas essa lavava, lavava...
Me preparava
Sempre limonada gelada,
Que eu amava,
Isso lá é verdade...
Bom... Período vespertino,
Eu de volta da escola...
Uma amplidão de espaços
À minha volta
Eu, este solitário menino
Só o ar quente
Fazia minha escolta
Restava-me o almoço,
Os recortes de revista,
As leituras
E os sonhos...
Era um tal de virar
Maestro,
Artista de cinema,
Bombeiro,
Radialista
Sei lá mais quantos!
Amiguinho de mim mesmo
Com sonhos a perder de vista...
Pois hoje, tento me cercar
De muitas pessoas...
Muito prestativos, todos!
Mas o efeito é demais débil...
Eis que me encontro mais só
Do que era na infância...
Quando uivava como um lobo
Imitando, só para mim,
Uma virtual ambulância!