Um segredo
Durante dias um pensamento a caminhar devagar dentro dela. Uma formiguinha em passos lentos e contínuos, senhora agora de sons em sua mente. Vagando sobre a pele... Flit... Flit... Flit!
As palavras do homem amado qual riacho a banhar-se em sua alma... Chuá... Chuá... Chuá! Não a incomoda a formiga. Antes, dá-lhe alento. Saboreia os sons, revivendo as palavras ditas. O corpo não está ali... Sozinho. Ao lado dele é capaz de sentir o outro, aproximando-se, querendo, desejando... Avançando de encontro ao dela.
Caminha na terra úmida, pés descalços, impregnando-se da seiva da terra. Borboletas coloridas pousam em pés de Boa-noite. Os murmúrios as manhã refrescam-lhe novamente os pensamentos. Flit... Flit... Flit! Acaricia os braços. Fecha os olhos momentaneamente e relembra as palavras queridas. Quando se enamorou? Não sabe. As borboletas voam. O calor da manhã a aquece.
Amores nascem. Brincam nos corações. Ela, chapéu de palha na cabeça, vestido leve de algodão, sorri intimamente. Lá longe ouve a molecada a jogar bola no campinho. Uma extraordinária beleza aflora dela. O castanho dos olhos brilha acentuando um ar de menina ao tom moreno da pele. Há neles um quê de chama, de um fogo próprio da paixão.
_ Dize o que sentes, menina_ Recorda-se das palavras do amado.
As mãos seguem o contorno do rosto. Ela suspira numa imagem das dele a sentir-lhe a maciez da pele morena agora pronta a amar. Um novo pensamento toma conta dela, daqueles olhinhos miúdos no rosto cheio: “Por Deus! Estou amando!”. Amá-lo é uma forma de tê-lo em si. De si permitir sonhar.
Rodopia algumas vezes na estrada. A saia do vestido acompanha os movimentos e encanta-se com a felicidade da menina. Porque toda a natureza conspira a favor dela. Quis abraçar as flores. Contém-se. Apenas recosta os dedos em uma Sensitiva. Fecha-se esta ao toque. Assim também o faz. Guarda seu segredo bem lá no fundo da alma com um medo de que alguém venha roubá-lo- E é só dela.
Numa tentativa de explicar-se à natureza diz: “Amo! Necessito gritar aos ventos?”. Sorriso de menina, abre a cancela... gesto de todos os dias.