Silêncios
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Liberto-me. Minhas palavras são leves. Levam-me silentes em suas asas. Mais uma vez minha paisagem se veste de azul e te busco na madrugada. Não consigo mais alforriar a saudade, nem fingir que te esqueço... Padeço. Mas sou livre. Livre para ponderar, livre para amar-te sem nenhuma desculpa, sem subterfúgio.

Um dia vens e me acendes. Vens e me foges. Então clamo pela porta aberta. Esqueço-me de que és só palavras. Que és verbo e poesia. Que és sal em meu poema. Desperta, eu calo as marcas que deixaste. Disperso o sonho, a cortesia das lágrimas. Quero estrelas e luz quando na noite eu me esconder pra abafar meu soluço. Sou livre, posso também chorar...

Um dia vens e me encantas. Amiúdo os momentos. A hora da canção.A estrada do tempo. E escapas com a noite em minha pele. Meus sentidos. Minha dor. Ainda ouço tua fala. Mansa. Teus sussurros noturnos. Teu hálito ainda perfuma minha lembrança. Versejo. Brigo com a solidão. Nada sobra. A não ser o que nunca foi. O silêncio tem medo, eu não sei mais.

Voas. Não te leio mais. Tuas palavras calaram teus senões. És silêncio. Mas sou livre. E guardo tudo assim meio ao viés de mim. Meus passos se consomem. Meus sonhos não te esquecem. Assim te guardo em meu secreto espelho, na clareza das perdas.

Só te peço: não me esqueças. E na última instância, busca-me na passagem da noite. Pois se me espantas, me deixas sem a realidade última. O tempo devora a vida. O tempo apaga os conflitos.

Então ouve-me! Sou o consolo da memória. Sou a argamassa do amor. Sou o beijo, sou a boca. Beijo molhado de silêncio...
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