VOZES DA SECA

...Assim como os lírios tecem os seus tapetes de ternura, meio à todo aquele "carrossel" de sementes ainda cruas, a grama se mistura com o orvalho, e sobre o verde queimado, um estreito caminho areado...

Percorrendo todo vale, até àquela casinha de sapê quebrado,

Com seus três pequenos cômodos apertados...Quarto, sala-cozinha e banheiro conjugado, onde na entrada, logo se avista um ditado...

“ Deus com nóis mora, nóis com Deus fica...”

Romeiros de uma fé inigualável, duas crianças que brincam despidas e descalças...Uma mãe que lava roupas sobre uma pedra recalcada, um pai, que sobre a pesada enxada, assobia junto à alegre revoada..

São dez quilos de mandioca para fazer farinha, um pouco para comer, e outro para vender por um mísero trocado, debulhar o feijão colhido, catar seus grãos, e cozinhá-los numa pequena panela de barro...A carne seca está lá, estendida sobre a cerca e o arame farpado, demonstrando que à muito tempo por ali, já não existe gado...

Pouca chuva para plantar no roçado, pouco para colher, nem chega meio saco...Uma vida simples, mas honrada, em meio à natureza, num cantinho no meio do nada...

À noite, a prece convida uma família realizada, mesmo que sofrida...No coração, a fé que esta morada humildemente recita:

“Deus com nóis mora, nóis com Deus fica...”