Intolerância
Aquela noite lunada,
cravejada de brilhos
lembrou-me quão perdida
estava aquel’alma sem trilhos,
do menino que na estrada
perdeu a tolerância nos espelhos,
marejando sempre retrato da vida!
Um monge se fez presente
e lhe disse que feliz seria
ao ouvir o canto da rosa apaixonante,
que enquanto dores esvazia,
sorri no meio do perfume existente,
dominando todo o campo com alegria,
mesmo que o espinho lhe sangre quente!
Jovem contudo, o menino afoito,
sedento de ver coisas acabadas,
não percebe o sabor do vento,
em frescor lambendo-lhe o rosto,
com flores leves perfumadas.
Correndo aloucado, cego e atento,
atenta, contudo não vê as alvoradas
laçando com graça e puro encanto,
anseios cativos as suas veredas!
Onde a rosa nascendo e cantando,
para responder suas questões,
que às pilhas vão-se avolumando?
Eram só roseiras esvoaçando
pétalas d’almas suspirando,
ou então entrevia-se corações
nos tapetes verdes perdidos,
esperando lindas canções,
prometidas da rosa desabrochando!
Onde o menino? Agora já homem,
barba branca e longa arrastando
intolerâncias que o consomem...
Mas o eco do monge ressonando
vem sempre melodioso e jovem,
anunciando um botão germinando,
nas mentes que tem seu prado
resvalado de chuva caindo!
Parou o menino, velho cansado,
à beira do caminho sentado;
ao avistar as migalhas coloridas,
com perfume divino e majestoso,
o vento doce e lépido seguindo,
percebeu que a flor nascera quando
a tolerância, o sagrado incenso,
ele não soube trazer ao seu lado,
e viu o quanto perdera neste mundo.
Veio o choro amigo e serenou seu passo!
Santos-SP-02/04/2006