DE HOJE

Vejo o reflexo nos óculos pousados sobre a escrivaninha

É o meu. Parece um palíndromo com sua imagem distorcida

Às vezes feia, outras vezes bonita

E o cinzeiro sempre cheio deixando aquele odor ocre no ar

Uma mistura de perfume e cigarro.

Ergo as mãos, os dedos a tocar os círculos ondulantes

Paro. Esvazio a mente fatigada. Quero repousar e descansar tranqüila.

Almejo uma amnésia irreversível. Não a partir de hoje, nesse aniversário,

A amnésia não seria temporal, mas situacional.

Hoje me sinto indubitavelmente melhor que ontem.

Amanhã serei melhor também, pois a balança está em pé de igualdade

A idade traz um peso bom e a essência de mim permanece

E assim vou sendo como posso, não me obrigo

Vivo e sinto o amor ao meu redor. O ano finda

E em meu silêncio, canto alto

E em posição estática danço, rodopio

Feliz! feliz por mim.