rascunhos
Pinto um retrato de mim e de ti. Amarelado. Tão novo e já tão envelhecido pelo tempo. Como as folhas mortas de outono. Como tudo por aqui. Cores desbotadas e gostos do que já se foi. Uma página velha da história talvez. Ou página virada. Quem sabe apenas o espaço em que fomos em branco. As manchas. As marcas. Rabisco minhas unhas de esmalte antigo. Queres que eu vá e queres que eu não vá. Entendo o que dizes mesmo sem dizer. Espero. Reticente. Como tantas fugas. Caminhando no exercício de manter a distância exata. De encontrar a nuance correta com que nos derramamos nesta tela há tanto já perdida. Porque envelhecemos tudo por aqui. Ao nosso redor redemoinhos de flores caídas. O outono veste as cortinas, os retalhos, as roupas puídas. No quintal o cachorro triste nos acena. O velho muro. Os bilhetes antigos. As cartas esquecidas. As fotos sem molduras. Mas tudo é sempre uma questão de tempo. Mais dia menos dia. Sabemos. E depois só restarão as folhas secas na calçada que insistes em varrer todo dia.