[Descompasso]

Cavalo manco,

tem uma ferradura quebrada

que não entra na música

que as outras compõem com as pedras.

Corte no barranco que revela

a raiz torta de uma árvore

crescida na precariedade do abismo.

Bêbado que entrou no velório

pensando que era festa

[... pensando bem, nem tão errado ele estava].

O destôo de quem recusa

a máscara das cotidianidades

e foge ao uso do uniforme.

A exaltação da beleza

face à presença da feiúra excessiva.

É óbvio: só mexem comigo,

e tiram-me dos trilhos,

as coisas que desafinam...

O que há em mim

que tanto mexe com você?

sei que eu desafino... em quê?

[Amor... oras, o amor!

Fujamos ao lugar-comum,

não falemos de amor...]

[Penas do Desterro, 06 de dezembro de 2008]