Bandeirolas...
Ontem, enquanto descia a rua, cheia de sacolas nas mãos e um cansaço e enfado da vida, meu olhar foi fisgado por um resto de bandeirolas num pedaço de cordão que o vento afastava e depois batia na parede de uma casa. Restos de uma festa de São João, com certeza! Mas o meu coração não se deu por satisfeito com esta constatação... E, guiado pela memória e imaginação, começou a lembrar e criar várias histórias de amor que começaram ou terminaram numa festa de São João. Lembrei-me de uma canção e cantarolei baixinho... ”Nosso amor que eu não esqueço, e que teve seu começo numa festa de São João. Morre hoje sem foguete, sem recado e sem bilhete, sem luar e sem violão...”
Então eu constatei, desta vez, em meio a lágrimas, que realmente não existem coincidências. O meu olhar não fora fisgado por aquele resto de bandeirolas duma festa de São João. Não, o meu olhar apenas havia encontrado um símbolo para retratar e finalmente abrir as portas dos sentimentos que já me corroíam por dentro e deixar rolar as lágrimas que lavariam esta dor...
Há uns anos atrás, numa festa de Santo Antônio, meu coração havia se dado conta de que fora completamente ocupado por outra pessoa... E agora, (através daquele símbolo) o meu coração estava se dando conta de que aquela pessoa tão amada havia desocupado o meu coração, só isso! E tudo isso!
Ver e sentir um amor nascer são com certeza das coisas mais belas e felizes que nós humanos podemos experimentar.
Ver e sentir um amor morrer são com certeza das coisas mais feias e tristes que nós humanos podemos experimentar.
Deixei para trás aquele resto de bandeirolas e segui caminhando, só que agora sem cansaço ou enfado, mas com o coração transbordando de vida, num misto de dor e alegria. Dor pela morte do amor e alegria por ter vivido este amor.
Bendita a mão que esqueceu aquele resto de cordão com bandeirolas... Pois elas me tiraram dum dia cansado e enfadonho.
Chegando a minha casa, coloquei para tocar aquela velha canção e enquanto dançava comigo mesma, chorava, ria e pensava: Que bom estar viva!
Morro do Chapéu, junho/2008