O dia em que virei fruta...
Sabe aquele dia quente e sufocante em que o ato de respirar deixa de ser mecânico e automático, exigindo de nós uma atenção muito consciente e preocupante, e aonde a sensação de medo devagarzinho vai chegando... Chegando... Chegando...?
Sabe aquele dia onde o ar tá tão carregado e pesado e a umidade é tão baixa que o nosso corpo lava-se de suor como a compensar a secura externa?
Pois é, foi num desses dias em que não sinto nenhum orgulho em ser humana e me envergonho de pertencer a esta espécie cega pela vaidade, ganância e desrespeito que me deparei com a visão mais bela, prazerosa e digna de reverência...
Lá estava ela na minha frente... Perfeitamente simétrica como uma mandala, linda como uma flor d’água... Estonteante em seu vermelho vivo e vibrante, como o sangue... Sangue da terra!
Que visão espetacular...!!!
Estanquei o passo... Sorvi com os olhos sedentos, de pensamentos secos, aquela água cristalizada em partículas tão minúsculas... Partículas perfeitas e simetricamente ligadas como num bordado Divino.
De repente, o ar se tornou leve e úmido e eu experimentei a fantástica sensação de ser uma com o universo... Ela e eu éramos uma coisa só... A sua beleza e perfeição tinham me arrebatado completamente... Fundimo-nos!
Vi boniteza em tudo de novo...
Este planeta é lindo!...Um grande palco onde a cada segundo um espetáculo é apresentado gratuitamente... Basta ter olhos de ver, ouvidos de ouvir... Todos os sentidos conscientemente presentes... E deleitar-se!
Reverenciei o Criador e sua obra, naquela melancia!
Morro do Chapéu, 05 de dezembro de 2008.