desacato

Um rascunho de mim e de ti. O que sou. Chama. O que chamo. Ferida. Meu nome? Não sei. Uma linha triste me pauta. Uma corda tênue me sustenta. O vazio antigo me preenche. Sou rasa. De feridas e olhos. Corpo e espaço. Esqueço. Vapores ósseos. Rabiscos. Um silêncio intermitente. Nunca o tempo de passar a limpo. A correção é uma prova. Escorrego e caio. Como Dora amanhecida. Amortecida. Inebriada de um riso fosco. Sem memória e apática. Fosco é então uma cor definidora. Sem luz. Sem pátria. Reinante de sons que se foram. Dos dias em que ardeu. Inerte. Escrevo como uma sucessão de coisas. Como um baile sem sons ou sopros. Um grito, uma lava ou um silêncio grande. Tudo e nada é motivo. Das faces guardadas no bolso tenho usado algumas. Ondas que avançam e retrocedem assustadas ao leito materno. Um soluço. Uma adversidade. Uma garganta em branco. Ou a flor que se perdeu. Nenhum bramido. Nenhum mártir. Nada que sussurre. Apenas o fastio incessante. Arrisco-me então. Atino-me a ser tênue. Um desejo. Uma máscara ou uma flor recolhida. Uma folha morta. Um desterro. A palavra esquecida. Apegos redimidos. Um nada retórico, impreciso. Um magma que se arrasta. Que se tinge. Latente. Descortinado. Uma face que se despedaça; sem olho. Sem forma. Uma hora em que adormece e se morre baixinho. Um olho apenas vazio. O choro convulso que desata a si mesmo e amarga as palavras silentes. O relógio parado. O meio-fio que se estende, a abrir portas. A renúncia das cordas, bambas ou firmes. Como um filme a passar. Vacilante. Desato.

Dani Santos
Enviado por Dani Santos em 05/12/2008
Código do texto: T1319448
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