Tortura

O pior que a um homem lhe pode suceder é isto mesmo: nu no médio dum salão isolado, dois homens brutos com mãos de ferro. Um homem sentado na única cadeira. No tecto uma lâmpada, um foco de mais que aquece. O lampião que não quer iluminar a mijar-te a cara, queimar-te a mente.

O pior que a um homem lhe pode suceder é isso mesmo: só uma cadeira. Ocupada. O guardião da sala em ela sentado. O dominador intimidando. Dois homens rudes e um deles muito afetado de cabeça despida, grita, grita e grita contra ti, contra seu próprio mundo.

O pior que a um homem lhe pode suceder é mesmo aquilo: o guardião da sala a tentar acalmar ao homem violento, o homem violento a deixar de bater-te, tão canso de rebentar-te por dentro qualquer órgão vital, que seu parceiro aguarda o momento de substituí-lo, para quebrar-te os ossos que ficaram ainda conscientes.

Logo um tentação: desejar a morte. E o falso amigo, o guardião a procura das tuas confidencias, enquanto já não ouves a ninguém, por que já não tens sentidos sãos que escutem aos que restam.

Ele continua ate entender que nada dirás já e que nada se espera que teu cérebro poda interpretar agora que a morte abriu duas janelas: a mente e coração, para penetrarem suavemente.

Então decidem que eles podem aguardar.

Ele pode aguardar: tem o relógio teu na mão esquerda, na direita o pulso da tua saúde. E suficiente paciência como para inaugurar um ciclo do que pende teu limite, um fio que roça com a navalha a borbulhar teu ultimo suspiro.

Deitam-te para que carregues oxigênio e a tez recolha uma milésima e pura gotícula de sangue espesso: desgastado.

Deves também aguardar... A morte como um desejo. Sabem então nada estas disposto a dar, nada podem obter, mas tem mais dias, muitos mais dias... para que tu, afinal entendas, que estas, estiveste sempre nas mãos deles...