Pompas fúnebres

Não se preocupem tanto comigo, afinal porque preocupar-se-ão tanto comigo, dizem que quando as pessoas morrem devemos aproveitar o melhor destas, destacar suas principais qualidades e seus mais infundados ideais por mais ingênuos que parecessem.

Pois eu digo que não quero que ressaltem minhas qualidades ou subestimem meus privados idealismos e princípios, desejo que abordem da maneira mais sincera possível meus defeitos, minhas falhas, minhas promessas não compridas e meus fracassos interiores.

Assim por mais grandioso que eu possa de alguma maneira ter sido

para algumas pessoas, estas se lembrarão que tenho inúmeros defeitos e que posso ter sido injusto de inúmeras maneiras.Viver nos faz carregar nossas piores tendências, das quais não me arrependo de maneira alguma de ter-las.

Quero que se recordem de meus erros, pois sei que vendo os meus

antigos defeitos poderão de alguma forma modificar suas piores tendências de modo a ingressar em um conjunto de desenvolvimento menos doloroso e baseado na existência de nossos semelhantes o que

nos transformaria em seres menos individualizados e potencialmente

mais integrados uns com os outros.

Quero que vejam meus defeitos e não que me idealizem como

um livro que acabou de ser escrito e não pode-se acrescentar uma

palavras se quer. Continuarei sendo um livro de anotações aberto,

com o passar dos tempos, pouco a pouco, as poucas pessoas que

posso de alguma forma ter influenciado em minha existência

poderão completar meu livro, assim como completei e completarei

centenas de cadernos individuais com meus pensamentos,

idealismos e defeitos acima destes todos.

De qualquer forma não esqueçam de minhas qualidades, todavia

não as mereçam demais, apenas apreciem os degraus que eu já

havia alcançado com meus próprios pés e com a ajuda de outros tantos tão importes a minha vida.

Minha existência não se resume a vida na terra ou ao aqui e ao

agora, resume-se ao que acredito, sonho e faço.

30/11/08

Natália de Matos Raimundo