Convite à contemplação da vida

Veja! Veja o céu com inumeráveis estrelas

contemple a expansão que é, antes de o ser a Terra

Viva ainda que esta noite apenas

Nada tenha em conta exceto não ter nada em conta

[neste momento]

Esqueça a luz do dia

Nesta noite há o brilho mais intenso,

agora o céu mais claro está

e as tímidas nuvens não assombram ou amedrontam

apenas complementam a paisagem

[que contemplas]

Escute os murmúrios que aqui se apresentam

é a vida que em tudo se encontra

Da vida nada se depreende

a não ser que é apenas uma

o pós-vida não há

semi-vivos o inventaram e com eles morrerá.

Escute as vozes não ouvidas,

silenciadas ante à indiferença.

Ouça é a vida que clama

não rejeites tal sublime convite.

Saboreie agora, o que ao paladar não agrada

mesmo que as papilas repilam

o amargor do que em verdade te é necessário.

Nem tudo que é belo e doce permanece

eternamente belo e eternamente doce.

Respire profundamente, encha com ar puro os pulmões

sinta o aroma que da terra sobe

como o vapor que forma as nuvens.

Olhe outra vez.

Veja agora detalhes antes não percebidos

miúdas coisas constantemente ignoradas.

Estas são as únicas que mais

profundamente desejamos

quando sequer enxergar podemos

e os únicos sentidos que nos restam

indicam-nos lugubremente

a proximidade do fim.