Horizonte perdido (2)
Eis que a tempestade finalmente dá uma trégua, e o Sol volta a brilhar com toda a intensidade de outrora, de quando navegava o barco por águas tranqüilas, de um azul tão intenso quanto o azul dos olhos da felicidade que conhecera no esplendor das primaveras de sua juventude.
É um belo dia de verão, agora, de Sol e mar ao alcance da vista, e do coração, como tanto sonhara naqueles dias de tormenta, em que quase fora tragado pelas águas revoltas de um mar de incertezas.
Na linha do horizonte distante que se descortina à sua frente, finalmente pode ver o azul claro do céu se fundir com o azul profundo do mar, no qual agora navega rumo ao porto seguro que, ao final dessa sua breve porém marcante existência, ainda há de encontrar.
À sua volta, nada de terra à vista; apenas as águas cristalinas de seu mar de sonho - quase real, agora. Como companhia, a estrela-guia de sua infância dourada, o Sol de sua vida, que sempre lhe aquecera os invernos mais rigorosos e cobrira de luz e cor os outonos mais secos de outros tempos.
Segue o barco seu destino, singrando as águas quase mágicas desse novo oceano. No convés, um turbilhão de sentimentos e emoções resgatadas de um passado distante - no tempo, mas não na memória - encerra o desejo irresistível de aportar novamente nas areias brancas e eternas da praia onde, um dia, o mar azul lavou as pegadas que o tempo jamais poderá apagar...