MEDIDA DO TEMPO
Não sei se é bom ou ruim essa consciência que tenho da marcha cronológica do tempo. Marcha que não me assusta, pelo contrário, me faz pensar no muito que ficou para trás em meio à poeira da estrada.
Não sei se é a música que ouço ou o céu que vejo distante e muito azul; se o cantar dos pássaros no meu quintal amplo e verde; ou a beleza destes dias primaveris, que me fazem empunhar, sofregamente, a pena e transferir para uma folha de papel tudo o que sinto neste instante.
E, como me faz bem tornar, em pensamento, ao passado mais distante e de lá vir, devagarinho, até me encontrar aqui, com a caneta em punho, num melancólico adeus às minhas fantasias, duramente atingidas ou rasgadas pelo tempo.
Essa consciência da limitação temporal da vida é que me dá força e me faz amar mais e mais o passado, que é quase tudo para mim. Daí a pressa que tenho em viver, intensamente, cada minuto, cada hora, cada dia, certo do valor que o tempo tem para mim nos meus sessenta e quatro anos. Daí me perguntar: Por que permanecer aqui, preso à rotina diária, ator e espectador obrigatório de minha própria comédia?!
Detesto pensar que poderá a morte surpreender-me no leito ou no sofá... Prefiro as margens dos rios, a sombra das árvores, os dias claros e ensolarados... Morrer assim sozinho talvez, sem colo para me deitar, sem mãos para me acariciar, sem ninguém para amparar-me na queda... Simplesmente morrer, como morre o grito que não sai da garganta ou que se perde no longo espaço vazio...
Setembro de 1986.
Antonio Lycério Pompeo de Barros
Enviado por Antonio Lycério Pompeo de Barros em 29/11/2008
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