Ontem você não me quis...

Ai! Quantos ais do meu peito agora sai, por essa noite em que desaportou do meu cais...

Ontem você não me quis mais.

Nessa noite em que me enxergou miserável, em soluços não por mágoas, mas por águas. Essa água ardente que me queimou o peito em ciúme e consumiu o pouco discernimento. Que me lambeu as pernas até que não mais se aguentassem, e eu caí.

A cena triste do mar salgado por onde agora se vai, o barquinho...

E do chão eu só vejo a vela branca balançando desanimada, cansada e machucada pela ventania traiçoeira e repentina. Do meu porto escuro e frio, onde foram saqueados os nosso sonhos, o tesouro do nosso encanto, eu a vejo, distanciando...

Eu grito, mas acho que já não me ouve... Rogo para que então os ventos mudem a direção e a traga de volta para mim.

Para que depois de ontem, quando você não me quis, venha o amanhã, do depois de amanhã do antes de ontem, quando você sempre me quis e para sempre querer-me-á .