Todos os sonhos
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Decidi levantar-me mais cedo. A noite fora longa e de sono inquieto. Não me adiantavam os exercícios insensatos da imaginação. De nada me serviriam. Tentei em vão domar um sentimento de ansiedade e entender, em meio ao vendaval que me desassossegava, essa minha relação com o tempo, para aceitá-lo como elo invisível de/na minha história...


Um torpor intenso ainda me afetava e me deixava presa à exterioridade do instante e ao devir das coisas inexatas. O sono ainda me obscurecia o raciocínio. Sentia-me lassa. Sustentava-me, nessa hora, de começos e tropeços imanentes sem a consciência precisa do que se passava comigo. O tempo refluía e vinha-me a quase absoluta certeza de que, naquela hora, o sentimento latente tinha apenas o poder de inaugurar os sonhos sem jamais poder consumá-los.

 

A ausência passava a se fazer presente ostensivamente e esse traço deixado pela saudade batia em retirada. Perguntas emergiam do meu íntimo: silêncios que nunca consegui entender. Desfilavam ali todos os sonhos expondo suas fraturas, diluindo suas fronteiras...

 

Todos os sonhos! – essa fonte de anseios que permanecia pulsando até a consumação de minha alma e que paradoxalmente, num pequeno lapso, se enfraquecia , desaparecia salientando as rupturas. Os sonhos representando o desejo pleno de fotografar o instante, a fantasia, a tessitura das emoções, a vontade impalpável, mas efetiva e ao mesmo tempo indomável de poder realizá-los, a possibilidade mesma do alento nesses caminhos deixados em aberto...

 

Sonhar nesse momento seria querer deter o tempo nas frações dos minutos e vencer o desânimo, o sono, o cansaço e seus sucessivos deslocamentos. Vencer as querelas da noite mal dormida. Extenuar-me de tanto sentimento, nessa emergência difusa de um desejo. Deixar o olhar se perder nas sendas da vida. Ter consciência de que o sonho é mais visível no alvorecer do sentimento. Sonhar e poder despertar sem sofrer.