O Romper das Amarras
O Romper das Amarras.
Minha alma voa como a brisa da manhã. Flutua com autonomia, sem barreiras, sem preconceitos, sem amarras. É um despertar cingido de sonhos e ilusões conduzindo-me à lugares nunca almejados ou jamais alcançados. Não que seja uma busca incontida ou impossível, mas jamais pressuposta a acontecer. Esse voar leva-me por dimensões nunca visitadas, mas sempre houve a certeza que existia em algum lugar esse oásis para saciar minha sede. Essa necessidade de ser livre como um pássaro, de liberdade para pensar e agir, de improvisar e sentir. De sonhar sem restrições e viver esse sonho, porque nada é impossível quando se busca a felicidade com paixão, com determinação, com sofreguidão. Os obstáculos tornam-se transponíveis, os impossíveis deixam de existir, as lacunas são camufladas e as amarras quebradas. Nesse estágio da vida nossa alma cresce e já não cabe em nós transpondo o ambiente que nos cerca e voa para a amplidão. Ganha espaço, já não nos pertence, mas torna-se nosso guia. Passamos a ver com os olhos da alma e descobrimos que não há limites para os que sonham e cerceiam esse sonho. Que a vida vai além do palpável, do presente. Ela é feita de sentimentos e desejos mil que unidos uns aos outros dão o colorido do arco-íris que coroa nossa fronte. Transborda de prazeres e inunda nosso coração de tal maneira que já não caminhamos, mas flutuamos. Já não percebemos os espinhos pelos caminhos da vida, somente o perfume que nos inebria, nos envaidece, nos torna especiais.
Dizem que o sonhar é para os tolos, mas eu digo, quão feliz é o poeta que arranca de sua alma toda a sensibilidade transportando-a para os versos que alegram a alma sedenta, endurecida pela vida. O coração calejado pelos sofrimentos, pelas partidas, pelas despedidas, tornou-se insensível. Deixou de sonhar a muito tempo, apenas se preocupando com a realidade de uma vida mal vivida. Onde o mundo deixou de ser um lugar prazeroso e passou a ser apenas uma alcova do aqui, do agora. Sem grandes expectativas, sem espaço para o sobrenatural. Sem o matiz da aurora do inicio de um dia que para os sonhadores seria um festival de canções de amor inundando a mente, mas para os mórbidos apenas mais um dia a ser vivido. Passam pela vida entrelaçados pelos sonhos inexistentes. As agruras de uma existência medíocre e desperdiçada pelos labirintos do submundo de um espírito renegado. Apenas um grito calado, sufocado pelo desejo de ser imperceptível, aflora em sua garganta que já deixou de solfejar as belas melodias de amor. Extinguem-se como a neblina arrastada pelo vento, desfazendo-se, apenas deixando de existir.
Minha alma se agiganta, cresce em proporções geométricas. Ocupa todo o espaço de meu ser transformando-o em algo belo, puro, agradável de se conviver. È o amor que se faz presente. Esse amor que transforma, que cura, que dá sabedoria que nos torna especiais. Onde os doutos agem como crianças e os jovens tornam-se sábios. Essa é a razão de minha alma em se desfazer em centenas de raios de luz. Por onde passa deixa pegadas profundas que servirão de marco para os que vivem na insensibilidade, na solidão.
Ester Machado Endo