Mera epifânia.

Para Bernardo, que certamente vai rir disso tudo.

Noite passada eu andava com os meus amigos pela cidade mas é claro que eu andava por outro lugar e eles estavam ainda nesta cidade mas eu estava com você. Era qualquer lugar, mas você disse que era New Orleans, e eu vi todos os bares abertos para nós, e somente para nós tocaram todas as canções de jazz que existiam e que ainda iriam existir depois que saíssemos dali para qualquer outro lugar. Eu vi Coltrane nos oferecer isso que já temos, e que ainda teremos após a love supreme terminar, mas ela nunca termina, não foi feita para ter um fim. E eu sussurro em seu ouvido que queria estar em Buenos Aires onde tudo seria possível, onde em cada esquina se ouve Gardel e eu dançaria com você, te conduziria para dentro dos meus sonhos e para dentro de mim, que talvez não seja o seu lugar mas ele sempre existiu ali, esperando por você, esperando que tudo faça um dia sentido enquanto andaríamos por aquelas ruas onde certamente todos os amores foram declamados. E eu não me importaria se no meio de um tango isso vire um samba-canção,

ora de Chico ou de Vinicíus, ou tão simples como Cartola,

porque,

qualquer dança em qualquer lugar só

teria sentido,

só seria eterno

com você.

Mas eu estou com os meus amigos bebendo uma cerveja num bar vagabundo onde, pode rir, se ganha uma tubaína a cada sanduíche de mortadela consumido

(mas eu apenas consumo delírios)

enquanto você está onde os meus sonhos não conseguem alcançar.

(mas o seu sorriso destroí tudo isso)

Katrina L
Enviado por Katrina L em 24/11/2008
Código do texto: T1301365
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