O homem que sabe!...
Comentário em torno de uma fotografia publicada na AABB-Rio, em fevereiro de1953.
Aquele velho, vergado ao peso dos anos, trazendo a alvura da neve na cabeça e a marca dos desenganos nos sulcos de seu rosto macerado, sorri...E o seu sorriso, irônico e frio! Sorriso de quem sabe, de quem conhece a vida de perto; de quem chega ao fim, tropegamente, arrastando consigo desfeitos sonhos, mortas ilusões; sorriso que ele dirige aos afoitos, aos que se agitam, num desperdício pueril de energias, como a adverti-los: - devagar amigos! Cuidado! A caminhada é dura e cheia de incerteza! Não sonhe tanto!...
Aquele sorriso indiferente e frio oculta em si as cinzas de um passado longo e a certeza do fim que se aproxima.
Os vincos que marcam seu rosto massacrado pelos desenganos, escondem em suas dobras um mundo de tragédias, decepções, mortas esperanças, sonhos desfeitos e uns poucos momentos de felicidade e enlevo...
Acreditou, demais, no amor e na bondade humana... E, quando em paga, recebeu a ingratidão, o abandono, a incompreensão e o ódio, sofreu demais, quis reagir, lutar desesperadamente, desprezar e odiar, também, a humanidade toda...Mas, já não tinha forças nem mesmo para odiar ou desprezar alguém...
Descrido, indiferente a tudo e a todos, ele – o homem que sabe -; que sabe, mas que não fala, que nada diz a ninguém, sorri... Apenas sorri...
Setembro de 1955.