Solidão intrusa

Solidão,

a tua visita não apresses

não permito que me atices,

teu tempo não desperdices.

De mala pronta, sem alarde

vou encontrar a Solitude

lá na praça da Quietude;

aquela sim boa companheira,

diz que, sempre fiel altaneira,

minha opinião vem primeiro.

Mas tu, irreverente Solidão,

chega amargando, de supetão

vestindo a vã comiseração,

impostora, nunca solitária,

com sua equipe em parceria

tentando nublar a melodia,

com tuas sócias egoístas,

tristeza, depressão e tantas

mais subtrações como estas,

fazendo tamanho vozerio

incompatível ao meu vazio,

que vê doçura no sombrio.

A Solitude em mim é amizade,

em ajuste perfeito à liberdade,

fica em mim mas não me invade,

permitindo que eu sonhe

e sonhando me acarinhe,

e no meu rumo embrenhe.

A tua lágrima é alcalina,

já a da Solitude é vitamina,

que semeia e domina

com a ternura que enternece

e jamais alguém a esquece,

lenitiva, chega numa prece.

Solidão, tu és abusada,

chega sem ser convidada,

para roubar-me a alvorada,

que me deu a Solitude florida,

tão minha apaixonada,

em serenata perfumada.

Teu crime é castração,

por impedires a alma de ação,

“sem indulto ou apelação”.

Já entendeste a diferença

entre morte e esperança?,

não venha sem que te peça

e se conforme falida,

a Solitude me é VIDA,

uma felicidade infinda!

Santos-SP-27/03/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 28/03/2006
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