O Horror.

Gritaram meu nome na rua alto demais e tampei meus ouvidos. Mas não era meu nome, era apenas aquela palavra designativa que referia-se a mim. Tive medo. Não gostei do nome que me deram. Achei injusto. Uma dor iniciando nas pontas do pés começou a corroer-me toda e vesti a carapuça do nome. Achei injusto novamente. Compararam-me com outras pessoas, gente vulgar. Poucas eram minhas amigas e compararam-me com elas. Disseram que eu era ruim, que eu estava mal. Senti o gosto podre do nome grudando no céu de minha boca. Ri da minha própria dor por deixar doer o fel de tanta gente vulgar em mim. Não podia! Eu sou forte! Mas me deram um nome duro. E quando alguêm dá a ti um nome, este alguêm pinta sua cara com cores próprias, duras e sem permissão. Meu tórax fechado e comprimido dentro de mim, e dentro daquele nome. Coisa mais horrível quando te dão um nome. O meu era feio, horroroso, medonho! Tive medo de novo. Esse nome ficou martelando dentro de mim como se já fosse meu há anos, como se estivesse para nascer dentro de mim mas que fora abortado por gente de quinta categoria; alimentado, criado e continuasse vivo; mas não me pertencesse, apenas me taxasse.

Esse nome perturbava minhas noites, arrancava minhas felicidades, porque ele estava ali. Maldito, maledicente, encarnado. Ali! Eu era o nome, o nome grudava em mim e me caia bem mas eu não poderia aceitar ser escrava de um nome sujo dado por gente vulgarissíma. O nome nasceu da merda e na merda se criou. Meu nome, meu! A bile começou a corroer meu fígado pois em mim foram nascendo buracos, vazios não preenchidos e desgastados. Partes de mim foram caindo e despedaçando-se como lepra, porque eu não era eu, eu era o nome. E eu não quero esse nome, não fui eu que escolhi! Minha cara não é medonha, meu corpo não é terreiro de maldições. Esse nome não é meu e não aceito esse nome. Sou forte!

Vanessa de Moraes
Enviado por Vanessa de Moraes em 21/11/2008
Código do texto: T1295604
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