Porto de Dublin
Quando breve a luz na exalação do poente. Comprámos a lembrança para figurar as impressões digitais, um dia será a fábula escavada na memória. Um fim moral, sentado em frente à dádiva solidão, meu riso hermenêutico desvenda as frases da paisagem.
Havia uma larga avenida descendo para o real, ao fundo um vértice permitia um ensaio do olhar, qualquer lugar era possível para ser o último, os carros paravam ao sinal vermelho ou às estrelas. Filamentos de sombras no fim do Verão e seduzido pelo odor marítimo o mar se entrecortava no interior das veias. Muito mais: o som dos navios pelo cais, a voz frágil dos nomes gaélicos, a minha interceptação da verdade do mundo.
Candeeiros acendem-se no porto, pelas hastes da felicidade escrevo em apontamentos palavras que nunca vou decifrar ou viver, sentir num vínculo a noite que vem sobre a estrada dos edifícios longínquos. Insisto e as palavras fragmentam-se – como a névoa espelhada em aves da bruma. Respirar este lugar adiado, por um instante, quando em vagas se aprofunda um céu de água.