Pontes de Poesia
Deus me deu olhos.
Mas que olhos são esses?
Somos transeuntes num mundo que olhamos, mas que não, na realidade não enxergamos.
Olhar se tornou rotina. Usamos os preciosos órgãos de visão como meras ferramentas de trabalho, não como as pontes de poesia que deveriam ser.
E essas pontes não são assim tão fáceis de serem obtidas. Precisamos construí-las. É necessário uma bela e contínua mudança lá dentro, para que o que há lá fora também mude para uma bela e contínua forma.
Aí sim!
Poderemos, então, observar os lírios do campo como os mais bem vestidos entre os seres.
Observar o além no onírico céu de uma tarde avermelhada de verão.
A suprema mutação no milho da pipoca.
A beleza vívida na cor da beterraba.
A alegria incondicional no abanar do rabo do cão.
Somente observar e venerar. Não pensar.
Porque como já dizia o sereno Alberto Caeiro: pensar é estar doente dos olhos...