Dublin

Não sei como escrever a arte, apenas ler debruçado sobre a vastidão sensível. Por uma planície de imagens, escolher os símbolos exactos, um bosque de artérias oculto aonde se vai perseguido pelo

rumor, debruar os sentidos, as manhãs que se sabe expostas às sílabas pronunciadas no início. Num lugar visitável. No real. O que existe e nunca escapamos ao que existe,

o vento sopra-me pelos olhos – o desígnio no cenário orquestrado do sonho. Nem sei o que está na folhagem da memória, um trajecto de espelhos escoltados no presente: o que fui, esse dia, o mar mais

próximo de jardins, as janelas abertas ao vento ou a relva, os muros e as lâmpadas do delírio, aquela noite, palavras rentes à morte, não sei escrever o que durou,

todos os temas foram vividos como cuspo na conjugação do ar. Os

retratos povoam um outro bosque, viajo pelas áleas em silêncio, a urbe onde o entardecer se veste de sombras confusas. Voltar.

Ficar debruçado sob o tempo breve, débil, talvez em jardins, de novo os jardins junto ao mar, talvez suspenso na contemplação ou na ronda do futuro. Ficar – repito - sob o tempo débil, breve – tudo é breve –,

quando

a luz na exalação da manhã

: em Dublin.