Sussurante

Estou indo, estou indo. Sempre, sem parar. Vindo, vendo, voltando. Existindo.

Estou aprisionado como numa movimentada corrente de rios. Nossa, me afogo nas águas turvas dessas correntezas...

Vou. E conforme vou, sinto estar conquistando muito. Mas essa boa sensação de conquistar algo sempre trás consigo, invariavelmente, a estranha sensação de se deixar outros algos para trás. Só nunca tomarei ciência do que viriam a ser esses tais algos inexistentes...

E o tempo vai. Em passos próprios caminha. E ele, que antes se mostrava tão inerte e tímido, agora sorri ironicamente. Sua existência amorfa toma corpo, seu rosto invisível me observa atentamente, sua constante presença intimidadora sussura num som mudo, úmido.

Num ímpeto, queria morrer um pouquinho. Mas não há escape.Então vamos, nos escaldando do amanhecer.

A experiência diária tem hoje um clima tão contradizente que só pode se comparar a mim mesmo. É cegamente obscurecida, atravancada numa pequena edícula empoeirada. Mas transmite uma tal claridade difusa que se faz naturalmente irritante. Não entendo. Não sei se fora ou dentro da espécie almada. Mas realmente é.

Tudo me remete muito a um balançar das antenas de uma baratinha. Ser tão ridículo, repugnante. Tão incrível! Na verdade, ela é a miniatura de um ser enorme.

Penso na minha identidade. A identidade me assombra.