Viajante solitário...
Viajante solitário, de fim de caminho... Embora se estreitem os teus horizontes e já não brilhem os astros com o mesmo fulgor, ante o teu olhar cansado e embaçado pelo tempo; embora tenhas pesado o corpo e feridos os pés de tanta caminhada e escasseiem já as energias que esparramaste com entusiasmo, fé e amor, por onde passaste, não abrigue, jamais, em tua mente sadia, voltada para as cousas belas da vida, a angústia ou o tédio que tanto deprimem e sufocam.
Que importa se o caminho se acabe! Se teus passos caiam, amanhã, no espaço vazio e profundo! Permanecerão os vestígios de tua passagem, as marcas dos teus passos largos e firmes, o calor do teu sangue pulsando nos corações e nas veias dos teus descendentes. Permanecerás sobre os gramados imensos do teu quintal e descansarás à sombra das árvores que plantaste. Viverás em cada verso teu, nos teus poemas escritos nas horas de recolhimento e solidão interior e deles surgirá aos olhos dos que os lerem, a tua presença bucólica, apontando horizontes e céus, colinas e montes; falando de amor, de cantos, de brisa, da solidão dos ermos... E viverás em meio aos cantos dos passarinhos, à quietude dos lagos, à solidão dos barrancos ou à beleza de uma noite de lua!.. Estarás presente à cidade natal que tanto amas, a tua gente, ao rio da tua infância, correndo para os alagados do pantanal mato-grossense!... E, então, perceberás que apenas, já não é de terra o teu caminho, nem há pés para se sangrarem ao longo da jornada.
Escrito em maio de 1983.