Uma flor e um deserto
Escrevo. Silenciosa. Como se fosses escutar minha solidão. Às voltas que estou com as cordas. Sempre bambas. Sempre a laçar-me. Um universo a lançar-se e eu aqui. Como uma palavra. Uma pedra à beira do abismo. Rosas amarelas que querem deitar-se, deixar-se à sombra e descansar. Trago os medos de antes. A solidão que me amanheceu. As inseguras horas em que se tem que provar. Ao mundo ou a mim? O que quer que seja. Esses infinitos tempos em que se deve queimar. A doer. E doer. Como água morna para o chá. Como água-de-rosa para esquecimentos. Necessários. Como um vinho tinto que é todo sangue. Feito olho túrgido que lacrimeja. Sozinho. Tantos olhos d’água a me invadir. Como uma mãe d’água a me chamar. E pelos jardins e pelas praças, todos os risos a me difamar. Todos os jugos a me sondar. Os espelhos estão quebrados. As paredes estão partidas. Volto para o silêncio que me veste como máscara sem rosto. De onde sou réu e juiz. De onde sou meu próprio silêncio.