Não sei por que hoje o passado está teimando
em me fazer companhia. Talvez porque logo
cedo andei com um album de fotografias anti-
gas de familia, onde revi cada pessoa que nes-
sa encarnação tive o privilégio de ter como próximo.
Algumas, nem cheguei a conhecer. Ficaram mui-
to longe de mim no passado. Olha ai, outra vez
evocando o dito.
Não gosto muito.
Abro o album e vejo com que solenidade as fotos
foram tiradas. Todos com suas melhores roupas,
sérios, olhar fixo na câmera. Repararam que nes-
sas fotos não existem sorrisos?
Repararam tambem que nas fotos antigas sempre
existem despedidas? Normalmente nas familias
de emigrantes como na minha, sempre tem um
navio, um porto, abraços e lágrimas.
Dai lembrei do filme Titanic com milhares de almas
partindo para uma viagem que só no último momento
descobririam que aquelas seriam suas derradeiras horas.
Por isso não gosto do passado.. Guarda muita supersti-
são,medos e enganos.
Gosto do futuro que ainda não aconteceu e nele cabem
todas as possibilidades. Mal comparando o passado se
assemelha muito à infancia (que tambem é passado), um
recolheu sonhos não vividos e que ficaram esquecidos no
baú do tempo, e a infância, tempo dos medos, da insegu-
rança do abandono.
Que brutal fragilidade a nossa.
Guardei novamente o album, sem antes deixar um pensa-
mento de luz para os antepassados distantes aos quais pedi licença para os esquecer um pouco.
Me entristeceu ver nas fotos crianças que talvez nem tenham tido a oportunidade de crescerem. Foram muito cedo embora.
Então guardado o album, respirei fundo, pensei no meu pre-
sente e vislumbrei lá longe o futuro me acenando.
Cházinhos de erva cidreira, oléo de figado de bacalhau......
Para que vocês servem mesmo?
Tradições à parte.... Futuro me aguarde, bem-vindo.
Boa tarde meu presente, te adoro.