Vamos seguir o rastro da lua, meu poeta?

Não sei quanto tempo se passou, desde que recebi a correspondência. Quando me foi entregue, pelo colega que veio da Capital, nem olhei, agradeci e ali ficou ao meu lado, não queria nenhum contato com o mundo exterior.

Só queria olhar o mar, sereno e atraente, como um manto de cetim a ondular seus reflexos dourados.

O vento provavelmente, foi descansar. A atmosfera é um convite ao amor e a paz. Percebi meu colega sentar-se a meu lado, mas nada se fala, sinto seu respeito pelo meu silêncio. Este silêncio só é perturbado quando as ondas quebram na brancura da areia com respeitoso carinho, como quem não quer desfazer o encantamento da noite que começa a descer.

Não falamos. Deixamo-nos apenas embalar pela doce carícia do gigante que se aquieta e pede uma oportunidade para demonstrar toda sua mansidão.

Meu colega cita algo sobre seu retorno, mas não assimilo, só meu corpo está presente, minha alma vagueia naquela imensidão. Mas ele insiste, trouxe-me aquelas coisas, pois tinha algo que parecia urgente, pergunta-me se preciso de algo mais, respondo: - Paz, meu amigo, bye! Ele levanta, acena e afasta-se em direção ao carro. Por que será mesmo que ele trouxe-me tudo aquilo? Olho contrariada, pois são contatos do mundo do qual exilei-me voluntária e temporariamente. Como estão ali, resolvo a contragosto, olhar para tão importantes documentos. Em minha pequenez, paro e assisto, mais uma vez à lição de amor que a natureza me ensina. O mar a cada onda, deposita na praia um beijo de reconciliação e; no encontro profundo entre a terra, o céu e o mar, todos os limites são eliminados, quedam-se as divisões e só existe a unidade do Universo.

Abro o primeiro pacote e vejo você, meu querido poeta de além mar, logo quando eu queria afastar-me de tudo, você chega até mim, através de um livro e abraço-te junto ao peito, sinto teu cheiro, teu gosto, teu calor, tua boca na minha e teu corpo colado ao meu. Deito-me na areia branca, não posso crer! Nem isolando-me do mundo, consigo arrancar-te de dentro de mim, tu vens; atravessas o oceano e aqui estás de novo a tirar-me o fôlego, a paz que eu, momentaneamente, parecia ter encontrado e estou novamente sem chão. Não preciso ler nenhum dos poemas, cada sílaba percorre minha pele; eu os sinto um a um, enlouquecendo-me...

E ali ficamos, deitados na areia branca, imitando as carícias do mar. E apenas nos deixamos ficar. Ouvindo o silencioso murmúrio das águas. Admirando a elegância da lua que passeia entre as estrelas vestida de festa. Sentindo o calor da terra em êxtase a experimentar esses momentos de rara ternura e harmonia. Não vemos bombas, máquinas, guerras ou violência. Somos nós e o Criador, em sintonia total. Acho que estamos no paraíso, meu amado poeta de além mar, tudo é lindo, tudo é bom, puro e perfeito. Levanta-mo-nos e nossas silhuetas recortam-se contra o céu e o mar (como na capa do livro, que mantenho abraçado em meu peito), e nossa simples presença é pacificante...

Difícil, encontrar esta sensação em nossos dias, onde tudo em nossa volta é tão limitado, tão finito, tão matéria! Sinto que neste momento estamos em comunhão, apenas a vida se manifesta esplendorosa, magnífica e nossos corações provam um gosto incomum.

E por ser lindo e bom estarmos aqui, não quero que acabe. Gostaria de que o mundo parasse agora. Que estacionássemos o tempo neste momento. E, olho para o céu e peço que tudo permaneça exatamente e indefinidamente assim... O que eu respiro é amor. Sinto a força desse amor instalando-se no ambiente, envolvendo-nos, impregnando-nos, embriagando-nos...

Sei que sentes como eu, meu amado poeta de além mar, do quanto seria bom ficar assim. Podermos esquecer todo o resto e sairmos, devagarinho, mãos dadas, seguindo o rastro da lua...

Koka
Enviado por Koka em 12/11/2008
Código do texto: T1279545
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