Simplesmente mulher!
Um dia, me perguntaram como é ser mulher nos dias de hoje e eu respondi que ser mulher é aprender.
Percebi que a minha resposta não tinha sido tão clara e satisfatória - tentei me explicar e disse, orgulhosamente, que ao longo de muitos anos a mulher aprendeu a não mais andar de joelho curvado e de cabeça baixa;
Aprendeu a levantar sozinha e a enxugar as próprias lágrimas;
Ela percebeu que podia ser muito mais do que as pessoas lhe diziam,
Que poderia ser grande e tão maior quanto o preconceito;
Aprendeu a sentir vontade – a dizer que sente vontade;
Aprendeu a tirar a roupa e a se mostrar sem medo e percebeu que também sentia desejos e que gostava de senti-los;
E andando com as próprias pernas, ela entendeu que havia espaço suficiente para ela em qualquer lugar e decidiu ocupá-los;
Ela não se intimidou com o longo caminho que iria percorrer para fazer com que os outros entendessem que ela tinha direito aos direitos que lhe cabiam;
E ela, na sua magnífica força e coragem, aprendeu a ser livre;
A gritar quando tem vontade - a chorar quando precisar chorar e a sorrir mesmo quando a situação não permitir sorrir -, mas acima de tudo aprendeu a ser forte;
Aprendeu a ter iniciativa e a entrar na fila sem precisar baixar a cabeça pra ninguém.
De calça comprida, salto alto - com rosto pintado e cabelos escovados -, ela aprendeu a ser muito mais do que uma mulher vaidosa;
Aprendeu a ser idealista, determinada e precisa.
Aprendeu a falar alto quando necessário;
Mas não foi só isso, ela aprendeu muito mais...
Aprendeu com a vida, com a situação, com a dor, a não ser apenas uma reprodutora e esposa, mas sim, que ela é uma parte importante na história, alguém que poderia ultrapassar , com ousadia e coragem, os limites da hierarquia;
Ela ensinou aos outros a terem respeito pela sua luta e alguns assim entenderam, outros não;
Ela aprendeu a tomar conta de si mesma, a tomar decisões e a não ter medo de dizer: “Eu posso”.
Aprendeu que não se deve ter vergonha do sexo, nem de dizer que gosta de sexo;
Aprendeu a tomar iniciativa e dizer “NÃO” quando necessário;
E percebeu que pode se prevenir e decidir à hora certa de ser mãe sem ser pressionada;
E diante dos olhos intimadores dos homens e de tamanha curiosidade, ela levantou a cabeça e mostrou que não era uma boneca de porcelana, mas que podia ser quebrada e que sempre conseguia se juntar sem perder nenhum dos pedaços;
Ela aprendeu a amar sem culpa e ensinou o homem a chorar sem receio;
Mas o melhor de tudo isso é que ela mostrou ao mundo que uma mulher pode ser muito mais do que uma costela tirada de adão, afinal ela é apenas uma mulher que aprendeu a lutar e a ser feliz sem culpa. E assim, todos nós aprendemos que as mulheres podem e devem transformar a história tradicional da sociedade.
Isso é ser mulher!
OBS: TEXTO LIDO POR ANA MARIA BRAGA NO PROGRAMA MAIS VC, NO DIA 22 DE MARÇO DE 2006.