Para Sempre Serão Dois

Era um tempo de revolução

Cem com mil vidas na mão

Era assim

E as ruas municipais

Lotadas de causas e ideais

Era, sim

Mas no meio dessa confusão

Havia espaço para o coração

Eram dois

Entre beijos a trocar

E promessas de fugir

Os olhares se encontraram

As mãos se tocaram

Era o amor nascendo ali

Estilhaços comandavam

As armas cantavam

Mas era o amor nascendo ali

Os corvos vieram de longe

Com honrarias e medalhas no peito

Jogaram a bomba

E voaram pro horizonte

Uma indiferença desse jeito

Lágrimas correram pelo rosto

Os corações dispararam

Olharam um para o outro

E finalmente se abraçaram

Ele, agora um soldado

Ela queria ter acordado

Mas tudo era real

Tudo era concreto

Nada era abstrato

Ali os nós se desataram

Os olhares se afastaram

As mãos não mais se tocaram

Menina, olhe para frente

Tudo será diferente

Aprenda a se libertar

A não mais chorar

Pegue suas asas

E aprenda a voar

O amor era pesado

Parecia amor de infância

E o tempo corria pelas veias

Lembrando da distância

Palavras românticas iam e vinham

Embrulhadas em papéis

Acompanhadas por versos singelos

E seus desejos fiéis

Como uma carta encoraja a mente

Escreviam um para o outro

O que não diziam pessoalmente:

A carta encoraja a alma

Encoraja a mim e a você

Escrevo nessas linhas

O que não consigo dizer

A garota lia

Com a emoção que a invadia

Pintando seus rostos

No branco de uma tela

Enquanto a mente dele exigia

Se lembrar do rosto dela

Poemas surgiam de seu coração

E de seu violão

Arrancava uma canção

Usava um tom

Ousava o tom

E voltava ao som clichê

Voltava ao tom

Ousava o som

Gritando “essa aqui é pra você!”

Ela agora lia

Coberta de alegria

Não era só uma carta

Era pura poesia

Mas acabaram as promessas

E as declarações

O garoto se encontrava

Entre tiros e explosões

Entre bombas e minas da terra

Entre gritos e ruídos de guerra

A aflição dominava

Controlava os espectadores

Que oravam pelos soldados

E por eles sentiam as dores

Para onde foi a magia?

Cadê aquela alegria?

Tudo havia acabado

A garota perde o seu amado

E é o fim do último ato

Os corvos voltaram

Com a mesma indiferença daquele jeito

Ainda jogaram bombas

E as medalhas continuaram no peito

Hoje a garota está cansada

Senhora bela e solitária

E o que passou será lembrado

É valioso o seu passado

Mas o coração não desiste

O antigo amor persiste

Ainda existe e existirá depois

A senhora está sozinha

Mas para sempre serão dois

Leandro Freire
Enviado por Leandro Freire em 11/11/2008
Reeditado em 20/05/2013
Código do texto: T1277673
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