A MORTE DO JASMIM
Certa vez, pousou sobre uma flor
Uma borboleta
A flor, admirada do colorido
De suas asas
Da alegria de seu vôo
Logo a amou...
Todos os dias a aguardava
Tecendo carinhos pólen
E ouvia seu canto
Suas histórias
De borboleta
Guardava a pétala mais tenra
Para seu pouso
Ouvia a borboleta
Brincava com ela
Riam juntas
Escutava com calma
A borboleta sempre apaixonada...
Recolhia suas lágrimas
Quando ela chorava
Algumas vezes falava de si
Aconselhava
Opinava
E a borboleta sempre voava
Para longe
Muitas vezes, a borboleta
Tão cheia da experiência de longo vôos
Lhe dizia
Você está errada
E, mesmo quando sabia
Que a borboleta não tinha razão
A flor calava, concordava
Sorrindo por dentro
Afinal, era apenas uma flor
Que tantas vezes
Ansiando por um carinho
Por dizer também
O que lhe perturbava a alma de flor
Ouvia: espera
E esperava, a ver a borboleta
Sobrevoando o jardim
Acalentando flores e insetos
A flor, ora brincava com as formiguinhas
Ora ria com as joaninhas
Mas amava mesmo a borboleta
Mas aquele era um grande jardim
E a flor, apenas um jasmim
Entre tantas flores belas
Um dia, entretida com um besouro filosófico
Ouviu o farfalhar das asas
Da borboleta amiga
E sorriu
Mas a borboleta não mais a reconhecia
Olhou-a com certo desdém
E se foi
Sem palavra
Partindo o coraçãozinho da flor
Que com lágrimas orvalho
Naquela noite
Murchou tristemente
Perdeu seu perfume
E definhou
E, assim,
Era uma vez um jasmim
Que sem borboleta
Foi-se do jardim
........................
Voa ainda a borboleta
Por entre flores tão iguais
Sem saber talvez
De um jasmim que a amou
Demais....