San Severino D'America
I.
Contemplava o sol o dia inteiro (dizem que) na esperança de calcinar a retina: a mente dilacerada de dúvidas, restava-lhe a memória queimando: um avô senhor de escravos o outro caçador.
- É o primogênito do coronel, mas negou paternidade ao menino por seus olhos negros.
Uns dizem que Sinhá morreu de desgosto, outros, que voltou para a Europa deixando o menino... É homem de muitos mistérios, até para as paredes do próprio exílio. As mulheres o dizem bendito, os homens atribuem-lhe a alcunha de milagreiro.
- Porque não as quis sujas de sangue, deceparam-lhe as mãos. Hoje suporta as muitas fomes andarilhando mundo em abismal soletude.
Há ainda quem afirme que sustenta punhais sob as vestes. No peito de um enjeitado do sangue deve haver sede de vingança! Todas as tardes se despede das crianças com cantigas que ninguém sabe o que diz e os pequenos lhe acenam, risonhos...
II.
Com meus olhos vazados fui aprendendo a aceitar a tepidez de uns braços, logo eu que tinha gosto por direcionar-me à distancias... Hoje, quando aponto na curva de uma estrada, as mulheres me socorrem em pranto.
Aqui nesta aldeia sou o único que sabe dizer acalantos e da mansidão dos afetos conheço como ninguém as ansias em muitos peitos.
Os homens não sabem ler ternura e as mulheres só sabem escrever delicadezas, então o abismo. Mas de saber ninguém sabe, a maldição do abandono pode até fazer-nos fortuna se isso que habita o peito não é covarde.
Mente quem diz que sou apenas um parvo. Observem-me o semblante, tenho-o envolto em calma. Quem fala com voz de aço jamais conhecerá da rosa além de espinho. Como minha mãe, fui trágico para as primeiras ternuras, mas se há sonâmbulos em seus lares, deixe-os comigo...
Cego, mas o coração é de um bardo e minhas mãos reconhecem gestos e gestações. Do que afeto é capaz a obra traduz em quentura. E das delicadezas, pratico-as sem vaidade. E dos caminhos digo que não são apenas pedregulho e farpa.
A flor é obra para olhos de ver bonito, bonita a vida margeando estradas por vício de ir mais longe nos longes das distancias... Embora, para os pequeninos tenha ensinado algumas cantigas que de aprender nem lembro, mas sobre o dançar é com eles. Tão cisnes! E nos campos longe de dedos em riste, todo menino é livre...
As mulheres antes tão nervosas e tristes, hoje as despedidas são lindas de riso. E elas voltam para casa mais sábias:
- Trêmulos anjos, não erram se às vezes em meus braços desatam seus segredos.