A ÚNICA LIBERDADE
Carrego os dias comigo e cumpro conforme necessito e consigo as inevitáveis tarefas do cotidiano. Também o cumprimento de todas as demais tarefas inclusive esta, de escrever, permanecem sobremaneira difíceis, exigindo-me um formidável esforço para sua execução. E, sobre todas, a sobre-todas titânica tarefa de te carregar dentro de mim.
Em algum lugar continuo a carregar o sonho de que eu me renasça e de que te renasças, muito outro e outra da e do que temos sido, a despeito de qualquer pequeno ou grande triunfo que possamos ter alcançado ou ainda alcancemos neste momento e neste mundo. A esperança de virmos a nascer de novo, à semelhança do rosto nosso que jamais efetivamos, o rosto de ti e o rosto de mim dos quais ambos abdicamos,em algum pretérito tempo perdido pela memória nossa no presente mundo. O rosto de mim que alcançaste em ti, o rosto de ti que alcancei em mim, por um milagre mútuo que, à falta de outro palavra, chamemos Amor.
Amigo meu, Amor meu, Paixão minha, mesmo Possessão a circular-me pela alma, pelas veias do corpo de carne: não me renegues em ti, jamais me arranques de ti como um aborto, como dor à qual não se sobrevive. Continua a acolher-me,como sempre, no todo de ti, na tua Luz e na tua Sombra,assim como jamais te reneguei em mim, assim como jamais te arranquei de mim, tanto quanto tenho sobrevivido, há milênios e cotidianamente, à dor da qual não se consegue sobreviver. A nossa única liberdade real.