CONVITE DE CASAMENTO

Queremo-nos tanto, sem hora certa pra começar, sem prazo para terminar...

Queremo-nos com pressa, e tanta urgência, para atender a emergência dos nosso corpos.

Queremo-nos ver, entreolhar, estar perto, tocar... e qualquer que seja o momento, existe a necessidade do "compartilhar".

É triste o dobrar de esquina e o não ver mais. Ainda que já seja madrugada e poucas horas de sono nos interrompa até o próximo encontro.

É louca essa coisa de já acordar necessitando estabeler contato, qualquer natureza seja ele.

É o sinal claro da conjunção das almas, que excede o entendimento e a razão; que transborda a nossa cama.

Por tudo de bom e feliz que fica dentro de mim, depois de cada encontro, e pelo agora que se tornou tão pouco e subalimentar, que me ridicularizo neste pedido:

Deixe-me ter logo pela manhã a doçura do seu abraço. Que ao abrir meus olhos nas primeiras horas do dia, seja você o meu primeiro sinal de vida! E que me aconchegue no seu corpo ainda quente, sob os brancos edredons, presenteando-me com seu cheiro de pele alva e macia... e vamos fazer amor, manhosamente...

Dê-me a honra de preparar o seu banquete matinal. Espremer as laranjas do seu suco, colocar seu misto quente à mesa; enquanto a água do chuveiro lhe desperta as segundas sensações desta alvorada.

Eu quero poder desejar-lhe "bom dia" e "bom trabalho". Estar à porta acompanhando de longe seus passos. E voltar ao nosso ninho, já todos emaranhado. Catar os travesseiros ao chão, desembolar os lençóis... abrir as cortinas! Descobrir, ao pé da cama, a sua calcinha.

Eu peço o prazer carnal de lavar a sua calcinha, ainda manchada do prazer de outrora. Recriar o tato do seu sexo, úmido e pronto. Completo. Para mim. E lavarei todas as suas calcinhas com essa mesma satisfação. A toda vez, divertindo-me ao encontrá-las, e saciando-me outra vez pelos desejos passados, já saciados; e pelos desejos futuros, já usurpados.

E vou começar o meu dia desta forma: já carregando você em minha saudade. Iniciarei minha lida diária e cotidiana, pelas ruas da cidade. Mas a minha verdadeira vocação, em desassossego me acompanha. Não vejo a hora de voltar à nossa casa, cumprir meu ofício maior: o de ser sua mulher.

Dê-me a virtude de fazer o seu almoço. De cozinhar para você a sua comida preferida. De esperar você com a mesa, limpa e posta. O seu prato e talheres cuidadosamente colocados. O arroz novo, o feijão recém-cozido... Cada dia, nunca é igual; porque há o tempero do que sinto por você, intenso e maior hoje, mais do que ontem. Haverá o sabor melhor: do respeito, da dedicação, do amor, da paixão...

Compadeça-se de mim, e presenteie-me com o seu retorno ao fim do dia.

Com ansiosa alegria estarei, sem fim, à sua espera. Quero abraçar você como se não a visse há anos... Sempre pronta para você estarei. Um ritual sempre antecederá a sua chegada. Eu me banharei e perfumarei cada canto do meu corpo, querendo-a sempre. Não importa se com uma lingerie nova sensualíssima, ou um pijaminha de malha, haverá sempre a evidência da cobiça. E de todas as maneiras que há de amar, nós nos amaremos: desde a transa mais ardente, ao simples recostar de cabeça no ombro para ver algum filme na tv. Adormecerei no seu braço, com a calma e a paz que suficientemente só você tem para acalentar minha natureza orgíaca.

Eu quero a flacidez da rotina, ao seu lado. Eu quero o desbravamento dos dias, ao seu lado. Eu quero o romper da aurora, e o cair do crepúsculo, ao seu lado.

É por querermo-nos sempre e sem demora. É por querermo-nos sem retoques, sem ressalvas. Por gostarmos de cada uma, o tudo e o nada, que me exponho ao alheio julgamento, e a peço em casamento.

Casa-se comigo?