EL CID
NARRATIVA de: Gabriel Martins
meu filho


 
 
A relação entre verdade e mito na História de El Cid é tão mista quanto a própria História de Espanha. Após a intensa migração dos Visigodos (povo germânico) para a Península Ibérica no século VII/VIII e a conseqüente derrocada Romana, a Igreja Católica declarou-se herdeira do Império e de suas terras. Os líderes visigodos concordaram com isto em troca sendo reconhecidos como Senhores das demais terras e povos da região.
Com o tempo estes visigodos foram cristianizados e os reinos da região tornaram-se cristãos. Em um convívio por tempos pacífico e noutros tempos conflituosos, a atual Espanha foi palco de disputas entre Reis e Lordes. Tais disputas permitiram acesso de lideranças islâmicas do norte da África a penetrarem e se estabelecerem em pelo menos ois terços da península.
Mesmo durante décadas de paz e prosperidade islâmica na Espanha, a presença muçulmana foi por muito combatida. Somente com auxílio de outros reinos católicos, principalmente reinos franceses (alguns ingleses e italianos), as derrotas revertaram-se em vitórias. Gradualmente os muçulmanos foram rechaçados pela força.
Quando reduzidos a pouco menos de um terço do território espanhol – Portugal já se declarara reino soberano – os maiores reinos espanhois, Leão, Castella e Aragão intensificaram as disputas internas e para isso estabeleceram curtos períodos de armistício com os muçulmanos.
 
Foi neste contexto que o Lorde Rodrigo Diaz, fiel ao Reino de Castella, ofereceu-se como o Campeão do Rei. Aceito após fazer-se honrado em combate com outros candidatos, uma de suas primeiras tarefas foi de desafiar o Campeão de Aragão e defender a honra de seu Rei. A fatalidade foi que seu adversário era pai de sua amada, e isto foi uma tragédia para o nobre lorde.
Vitorioso no combate e derrotado no amor, Rodrigo Diaz não pôde casar-se com sua amada. Anos mais tarde, o Rei de Aragão realizou um torneio tendo como prêmio a mão da órfã de seu falecido campeão. Vencedor, ele conquistou o direito de desposá-la.
 
Com a morte por velhice de seu Rei, Diaz teve de assistir e garantir a posse do príncipe primogênito. A irmã e irmão mais novos não aceitaram e exigiram partes separadas do Reino. A esta altura, Castella e Leão haviam sido unidas pelo falecido Rei. O mais novo herdou Leão e sua irmã uma pequena província, mas isto não lhes foi suficiente.
Após conspirações e tentativas de golpe, o Rei posto foi envenenado e o mais novo pode legitimamente assumir o trono. Sabendo do envolvimento dos irmãos na morte do novo Rei, R. Diaz não jurou fidelidade e foi banido. No momento mais desonroso de sua vida como nobre, surgiu o momento mais feliz para sua vida. Exilados numa província rural, o lorde e sua amada puderam viver um curto período de paz.
Porém esta foi rompida pela ameaça de um lorde muçulmano que ambicionava tomar toda a península para si. Apoiado e financiado por Xeiques do norte da África, não seria difícil fazê-lo. O respeitoso e nobre relacionamento de Diaz com seus inimigos muçulmanos permitiram uma possível paz e até mesmo uma pretensa aliança.
El Cid, como era conhecido entre os muçulmanos espanhóis principalmente por sua lealdade aos reis falecidos, levou ao Rei em exercício a proposta de aliança contra o inimigo feroz que se aproximava. Mesmo correndo o risco de ser preso e enforcado ao voltar à Castella, El Cid teve sucesso e foi aclamado herói do reino.

Com um contingente relativamente pequeno de soldados leais a ele, o Cid reuniu um exército misto de cristãos e muçulmanos para poder fazer frente ao inimigo em Valencia, cidade litorânea cristã. Durante esta última batalha El Cid teria sido mortalmente ferido, mas sua liderança era a única garantia para a aliança de forças dentro de seu exército. Num ataque final e feroz contra os invasores, cuja estratégia era a de citiar o castelo de Valencia e não de combate aberto, cristãos e muçulmanos massacraram um vasto exército inimigo sob a lideranaça do Cid montado em seu cavalo. Se era ele mesmo ou se ele estava vivo sobre seu cavalo, o mito se fez mais forte que a verdade, qual ela fosse.
 
Após a vitória sobre os invasores, o Rei de Castella aproveitou-se da morte de Rodrigo Diaz e liderou a Reconquista contra os reinos muçulmanos espanhóis. A união dos reinos católicos contra os enfraquecidos aliados do Cid foi devastadora. Posteriormente, o Reino de Leão e Castella uniu-se em matrimônio com o Reino de Aragão permitindo a fundação do Reino de Espanha. Apesar de derrotados, os muçulmanos resistem até hoje como uma minoria traída, porém espanhola, graças ao Cid.
 
MLuiza Martins
Republicado