A história de uma flor
Dentro do quarto, sufocando o silêncio, além de mim e de meu medo, enchiam o ambiente dois cachorros (Mudos como a dona!), sossegadamente deitados ao lado da rede em que me encontrava. Em gestos lentos, no entanto suaves, brincavam minhas mãos alheias aos meus pensamentos. Estes, agitados, numa expectativa, perguntava-se se as horas não passariam.
Algumas vezes, uma sombra estava ali ao lado de mim. A morte. Faceira e convidativa. Eu embora risse dela, nas horas percebidas da visita, observava-a calada e atraída. Meus pensamentos são invioláveis! Contudo, a sinceridade do momento e o fato de estar só em companhia de meus cães me forçam a admitir que me encontro curiosa de saber o que quer de mim, apesar do medo que sinto por ela.
Essas horas em que fico assim representam um solene e temível momento de minha vida_penso em outra vida_de uma pessoa em que a urgência de meu corpo reclama.
Lá vou eu, sob a luz da lua da janela de meu quarto, atiçar as células da pele! Jogava já ela um aceno de adeus em seu movimento. Era o estímulo de que eu necessitava para a saudade vir também ser minha companheira de quarto.
Deixa-me prosseguir. Era a minha pessoa a única a notar o silêncio. A noite corria lenta e afrontada pelo calor. Uma muriçoca veio pousar em minha perna. Vi-me na contemplação do trabalho dela. Vida! Com a dor, espantei-a com as mesmas mãos antes suaves, esfregando-as agora na pele picada. Cocei cuidadosamente o local e me perdi em meus vagares.
Súbito o telefone toca. Saí inteira dessa placidez, esquecida dos colapsos mudos, e via diante de mim um rompante inquietante de desejos escondidos aflorarem.
...
Outro dia vi uma mulher com uma enorme vontade de conhecer o amor. Chamaram-na de “Flor”. Imagine as pétalas se abrindo!!!