Em Movimento
Esquecia-o apenas porque era preciso.
Não sabia exatamente por que o era, entretanto. Apenas que não esquecer causaria mais sofrimento.
É que a casa dele não tinha os elementos componentes de uma casa, pois ali não era seu lar.
Porque não havia raízes que o prendessem aonde ela estava. As raízes dele eram de outro espaço.
Escorregaria daqui como escorregara sobre a existência dela.
Ela, porém, não tinha raízes em espaço algum do mundo.
Flutuava como uma flor que é levada pelo vento.
Movia-se constantemente, quase com desespero de parar e descobrir o nojo no subterrâneo das construções humanas.
Era o esgoto fétido prestes a jorrar de um cano que estourasse.
E todos sorriam honrando a suposta beleza, fingindo não saber que o que era belo só havia em nome do que era feio.
Empurravam com repulsa para fora do mundo o que não lhes agradasse.
Ela não agradaria... não queria agradar...
Deixar-se levar pela brisa era a única maneira de não permanecer tempo suficiente para que descobrissem que não a queriam e a condenassem ao limbo, de preservar sua loucura das prisões e dos sanatórios.
Como louca, sabia que não o esqueceria. Não sabia esquecer-se das pessoas.
O vento, contudo, afagaria seu sofrimento pelas coisas do mundo.